Além dos prejuízos à mulher, em caso de gravidez, a doença pode ser transmitida para o feto, situação chamada de sífilis congênita. As crianças já nascem com complicações de saúde e, muitas vezes por falta de informação, ficam longe das estatísticas e do tratamento.
O acompanhamento feito pelo Programa Nacional de DST e Aids mostra que o número de grávidas com sífilis é crescente no País. Em 2007, foram confirmados 6.673 casos de gestantes com a doença, número que subiu para 7.584 em 2008 e terminou em 2009 com 8.737 registros. Os dados parciais de 2010 – referentes até o mês de junho – mostram 3.847 mulheres contaminadas pela DST.
Ao mesmo tempo em que o aumento de casos pode refletir uma melhor notificação por parte dos serviços de saúde – o Ministério da Saúde lançou há quatro anos um plano de erradicação da sífilis congênita – outros dois levantamentos apontam para a fragilidade do sistema na intervenção precoce do problema, o que evitaria a complicação dos casos e a transmissão de mãe para o filho (chamada de vertical).
Pré-natal falho
Um trabalho publicado este ano no Caderno de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz, feito com grávidas do Ceará, indicou que apenas 5,2% delas tiveram atendimento adequado para prevenir a sífilis congênita.
O acompanhamento de 58 gestantes mostrou ainda que nenhuma fez o segundo exame para a detecção de sífilis, ferindo as normas preconizadas pelo Ministério da Saúde de ao menos três coletas durante o pré-natal.
Em 88% dos casos, apesar de 89% terem parceiro fixo durante a gravidez, o parceiro não foi convocado para fazer testagens e, em caso de diagnóstico sífilis, começar o tratamento.
“Para isso, é necessário que tanto os profissionais da saúde quanto os gestores estejam seriamente comprometidos com a qualidade dos serviços prestados na assistência pré-natal. Considerando a importância dos registros referentes ao acompanhamento da gestante, cabe ressaltar a necessidade de melhoria nas informações registradas nos prontuários e nos cartões das gestantes”.
Rotina falha
Se no pré-natal as mulheres não recebem orientação adequada, quando elas procuram os médicos para fazer os exames de rotina a abordagem também é falha. A pesquisa sobre o comportamento sexual do brasileiro, divulgada pelo Ministério da Saúde em 2009, mostrou que 9,8% das pessoas do sexo feminino entre 15 e 64 anos relataram já ter tido uma DST na vida.
Destas mulheres, 54% receberam orientação de usar camisinha por parte dos profissionais de saúde, mas só 22,5% foram orientadas a fazer o teste da sífilis, o que indica que 77,5% ficaram de fora desta avaliação médica.
Negligência
As falhas com o diagnóstico e prevenção da sífilis foram contabilizadas por uma pesquisa internacional, divulgada há dois meses. Pesquisadores da University College London analisaram 10 estudos prévios, que envolveram um total de 41 mil mulheres, e divulgaram suas conclusões na publicação científica Lancet Infectious Diseases.
Segundo os dados divulgados, a sífilis causa a morte de meio milhão de bebês todo ano, número que inclui natimortos e bebês que morreram pouco após o nascimento, a maioria na África. Em mais de dois terços dos casos, ocorrem sérias complicações.
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